A estrutura básica de uma comissão técnica de uma equipe profissional vem se tornando cada vez mais numerosa pelas novas necessidades do futebol. Nos atendo apenas aos profissionais que estão envolvidos no “trabalho de campo” diretamente temos:
- Treinador
- Auxiliar Técnico
- Preparador Físico
- Auxiliar de preparação física (não em todos os casos)
- Treinador de goleiro
Olhando para a relação acima, na atual realidade do futebol, os únicos que chegam no esporte pelo caminho acadêmico são o preparador físico e seu auxiliar. Os outros cargos normalmente são ocupados por ex-jogadores. E essa configuração talvez explique a aplicação dos grandes avanços obtidos em áreas como a fisiologia e bioquímica do exercício, a biomecânica entre outras. Não que estejamos no nível ideal, mas no caminho para ele. Ainda dentro de uma visão fragmentada e fragmentadora do conhecimento, cabe ao treinador e seu auxiliar deter informações relacionadas à tática (e não a “dominante” tática integrada com outros aspectos) e os meios para que sua equipe a assimile e automatize alguns padrões.
Por ter toda uma carreira geralmente construída na base experiência e no modelo jogador-executor, o ex-jogador e agora treinador precisa criar alguns hábitos que se fazem importantes nesse novo período de sua vida. Um deles é estudar sobre os temas que cercam sua nova profissão para que se torne um profissional capaz de adquirir novos conceitos, repensar a prática atual aplicada e construir novos conhecimentos.
Pensando no trabalho do dia a dia, fica mais explícita ainda essa necessidade, pelos desafios que vão surgindo. Imaginemos uma situação problema: a equipe A não realiza contra-ataques com freqüência mesmo em jogos com possibilidade para isso. O que fazer? Como trabalhar isso no treino? Abaixo seguem as soluções de determinados treinadores:
- o treinador 1 passou essa sua impressão aos jogadores na reapresentação após o jogo e cobrou que eles realizassem saídas em velocidade no coletivo sempre que recuperavam a bola. Gritava com os atletas quando não ocorria o que foi pedido;
- o treinador 2 , respaldado por um scout quantitativo, apresentou uma resposta parecida com o treinador 1, mas pediu ao seu preparador físico que aumentasse a carga de trabalho de aceleração e força explosiva como complemento;
- o treinador 3 identificou através de um scout qualitativo que assim que roubava a bola sua equipe perdia rapidamente por problemas no jogo posicional e demora na transição ofensiva, mostrando aos seu jogadores o problema através de vídeos editados e debatendo as possíveis soluções em uma reunião e;
- o treinador 4 realizou todo o processo do treinador 3, mas embasou a busca de soluções no trabalho de campo, com atividades que apresentavam as situações problema do jogo em uma densidade alta para que as respostas que fossem surgindo aumentassem as possibilidades de soluções da sua equipe. Nas atividades, por arrasto, as capacidades físicas eram treinadas num contexto motivante de novas descobertas e a capacidade técnica de cada atleta era uma ferramenta para se atingir determinados objetivos.
Para que o treinador possa aumentar as possibilidades de resposta dos seus atletas é imprescindível que ele aumente as próprias primeiro, dominando áreas do comportamento humano e da pedagogia do esporte. Essa flexibilidade dará a ele (treinador) uma gama maior de soluções para os eventos que se sucedem, adaptando-se melhor as diferenças comportamentais dos seus jogadores, da sua comissão, enfim, de todos os envolvidos no processo. Simultaneamente à escolha de ser treinador, escolhe-se ser cientista, psicólogo, pedagogo, filósofo e acrescente o que mais julgar necessário para o cargo. O futebol precisa mais de profissionais do que de técnicos, que apenas reproduzem procedimentos. E se você tem a intenção de se tornar um treinador, e realmente gosta de futebol já sabe como pode colaborar, e muito, com ele.
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