sábado, 30 de maio de 2009

Compreensão do Jogo: da formação ao profissionalismo

Segue abaixo o questionamento (em itálico) e a resposta dada ao editor do site "Universidade do Futebol", Bruno Camarão, sobre o comentário recente do treinador Mano Menezes dado ao programa Arena Sportv.

No programa Arena Sportv, o Mano Menezes, treinador do Corinthians, após questionado sobre a atuação de meio-campistas, estilos, etc, falou sobre o Boquita, jovem de 18 anos, que participou da campanha vitoriosa na Copa São Paulo desse ano e subiu para o elenco profissional. E comparou com outra revelação: Lulinha.

"O Boquita encontrava muitas dificuldades de definição de jogada, pois cadenciava muito, tinha uma leitura privilegiada, mas a dinâmica da partida nessa categoria era mais corrida. Quando ele chegou no profissional, diante de uma maior cadência, adaptou-se rapidamente. Com o Lulinha pode ter ocorrido o inverso, sem dúvidas".

Sobre isso, gostaria de contar com a sua opinião de campo. É comum jogadores apresentarem mais dificuldades na base, por conta do seu estilo, e se adequarem rapidamente quando são encaixados no time de cima? O processo de maturação dos atletas nesse período, entre os 16 e 18 anos é mais ou menos parecido? Que tipo de trabalho poderia ser realizado com esse tipo de atleta para "acelerá-lo" ou "desacelerá-lo"?

"Primeiro temos que tentar entender o que o treinador Mano Menezes entende por "cadenciar" o jogo. Ao dizer que na categoria sub-20 a dinâmica do jogo é mais "corrida" provavelmente ele está se referindo (quando cita esses dois termos) ao correr menos ou mais sob o ponto de vista da dominante física de forma dissociada às outras variáveis.
Em tese, o jogo das equipes profissionais deve ser o mais elaborado (pensando na evolução do jogo anárquico ao elaborado segundo Júlio Garganta) e, portanto exige uma compreensão num nível superior àquele exigido pelas categorias de base. Digo em tese porque podemos ter equipes sub-20 ou sub-17, por exemplo, que construam um jogar baseado em uma maior e melhor utilização de referências, proporcionando a essa equipes um jogo melhor qualificado.
Atualmente, no Brasil, o desenvolvimento dessa compreensão do jogo fica dependente da capacidade individual dos atletas em problematizar as situações por ele vivenciadas e transformar em aprendizado efetivo. Não se considera um conteúdo fundamental em nossas categorias de base (salvo raríssimas exceções - para não falarmos todas - inclusive aquelas reconhecidas por apresentarem uma excelente infra-estrutura) desenvolver a compreensão individual e coletiva dos atletas no intuito de promover um jogar superior. Perceba como nossos atletas vem sendo contratados mais novos (em idade) e terminando seu período de formação em alguns grandes clubes europeus. Poucos têm saído do Brasil e jogado regularmente nas equipes de "top" européias sem uma prévia adaptação. Essa leitura privilegiada, a qual se referiu o treinador em relação ao Boquita, é treinável, mas para isso existe um processo de alguns anos que deve iniciar no momento que o garoto entra no clube (sub-11 ou sub-13) e que respeite sua zona de desenvolvimento proximal e não deve terminar assim que ele chega ao profissional, pois a aprendizagem contínua e a vitória andam lado a lado. Precisamos rever alguns conceitos."


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Leandro Zago