quarta-feira, 18 de julho de 2012

Conexão entre os padrões individuais e coletivos e as situações-problema do jogo


As respostas-padrão dos jogadores e das equipes ao jogo, solucionando problemas ligados à lógica do jogo para cumprir com o objetivo de fazer mais gols que o adversário

O principal objetivo de uma equipe de futebol, durante uma partida, é fazer mais gols pró que o adversário. Exceção feita a algumas circunstâncias dos campeonatos, como em fases eliminatórias com peso maior para gols marcados no jogo com mando de campo adversário ou quando a vantagem foi construída antecipadamente e qualquer resultado que não seja a vitória nos noventa minutos seja suficiente. Porém, para vencer a partida, a equipe tem que fazer mais gols que o adversário, porque o jogo inicia-se empatado.
Para atingir esse objetivo (marcar mais gols que o adversário), os jogadores e a equipe devem entender sobre a lógica do jogo de futebol (Leitão, 2009). Segundo o autor, a lógica do jogo de futebol consiste em fazer com que a bola entre na meta adversária com o menor número de ações possível.
A partir do momento que o jogo se inicia, os problemas sequencialmente aparecem e começam a surgir respostas individuais e coletivas que respeitam a alguns padrões construídos pela cultura e experiência dos jogadores, pelo treinamento prévio, pelo tipo de orientação dada pela comissão técnica, entre outros.
Momento 1 (saída sob pressão): abaixo, seguem dois vídeos comparando os padrões das equipes do Barcelona (jogo vs Real Madri) e da Seleção Brasileira (jogo vs Alemanha) quando em posse no campo de defesa.

 Vídeo 1 - Barcelona (saída sob pressão)

A equipe do Barcelona está circulando a bola quando o Real Madri adianta sua equipe após um passe para trás. Sob pressão, o Barcelona utiliza o goleiro como apoio por trás e busca realizar sua progressão de maneira apoiada, conforme sua cultura de jogo preconiza.

 Vídeo 2 - Seleção Brasileira (saída sob pressão)
 
Após o tiro de meta, a Seleção Brasileira opta por uma ação vertical mais longa. Um passe em profundidade na faixa lateral do campo.
Nos dois vídeos, temos dois caminhos diferentes para progredir em direção ao gol adversário. Dois times com padrões coletivos diferentes para resolver um problema semelhante. O Barcelona opta por utilizar passes menores, respeitando uma estruturação do espaço com figuras geométricas construídas que dão suporte a essa manutenção. A Seleção Brasileira (justamente por se tratar de uma Seleção) conta com jogadores das mais variadas equipes, cada um com comportamentos próprios que, em pouquíssimos treinamentos, tem que se ajustar e compartilhar uma idéia de jogo que permita minimante que as respostas coletivas sejam eficazes.
Momento 2 (transição defensiva): abaixo, seguem quatro vídeos (dois de cada equipe) comparando os padrões das equipes do Barcelona (jogo vs Real Madri) e da Seleção Brasileira (jogo vs Alemanha) ao perder a bola.


Vídeo 3 - Barcelona (transição defensiva)

Imediatamente após à perda da bola, a equipe inicia a ação pressionante, com a corrida de um jogador em direção à bola e a ocupação rápida e organizada do campo de ataque.
  

Vídeo 4 - Barcelona (ataque imediato à bola)

A tentativa de recuperação da bola é imediata com ataques sucessivos ao adversário que está em posse.


Vídeo 5 - Seleção Brasileira (transição defensiva)

Após o erro de passe, há, num primeiro momento uma prioridade em rapidamente reorganizar-se para em seguida realizar um ataque à bola.


Vídeo 6 - Seleção Brasileira (recomposição pós-perda da bola)

Ao perder a bola no campo de ataque, não há pressão imediata na bola, e a equipe se reorganiza com os jogadores do meio de campo atrás da “linha 3”.
Há uma diferença visível nos comportamentos dessas duas equipes nesse mesmo momento do jogo, a transição defensiva. Na tentativa de desequilibrar o adversário em sua transição ofensiva, o Barcelona ataca imediatamente o portador da bola, enquanto a prioridade da Seleção Brasileira é reorganizar-se e depois pressionar a bola. Ao que parece, o princípio operacional de defesa de recuperar a bola é mais forte na transição defensiva do Barcelona, enquanto na Seleção Brasileira o princípio operacional de defesa com mais força é o de impedir a progressão do adversário. Os outros princípios operacionais de defesa estão ali presentes, mas não se manifestam tão claramente nesse momento para as duas equipes.
É importante entender a conexão entre os conteúdos. Padrões de resposta individuais e coletivos para resolver da melhor forma possível (dentro das possibilidades) os problemas ligados à lógica do jogo e chegar ao objetivo primordial: fazer mais gols que o adversário. A opção por este ou aquele caminho na busca de soluções depende de um grande número de variáveis como a característica individual dos jogadores, o tipo e o tempo de treinamento, a cultura de jogo da equipe, etc. Mas observa-se, nos dois casos anteriormente citados que aqueles momentos expostos (saída sob pressão e transição defensiva) estão conectados com a idéia de jogo das equipes (assistir trechos das duas partidas seria um bom exercício), independentemente de considerar as respostas ideais ou esteticamente atraentes, ganham e dão significado quando analisadas dentro da proposta global do jogo.
Tão ou mais importante que entender como as respostas se conectam, é perceber qual é o real problema que o jogo (aqueles inerentes ao JOGO) propõe e que as equipes estão tentando resolver, senão, com um diagnóstico errado, provavelmente a resposta não será a melhor possível. É também entender sistemicamente, o que os comportamentos de uma equipe vão gerar no adversário e nas soluções que ele retornará às novas circunstâncias.

Referência Bibliográfica

Leitão, R.A.A. O jogo de futebol: investigação de sua estrutura, de seus modelos e da inteligência de jogo, do ponto de vista da complexidade. Tese de Doutorado em Educação Física. Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). 2009. Campinas. 2009.

Leandro Zago