segunda-feira, 10 de março de 2008

Triângulos defensivos

A formação de triângulos envolvendo os jogadores é uma característica da marcação por zona. Por objetivar ter controle prioritário sobre os espaços e não sobre os jogadores adversários é fundamental manter uma geometria planejada. A base dessa geometria é criar triângulos em função da posição da bola dentro da área de atuação estabelecida pela marcação (linhas de marcação).

Dentro desse princípio temos as seguintes disposições dos atletas (figuras 1).

Figura 1 – Triângulo formado entre os atletas 5, 8 e 11 (preto)

Vemos na figura que o sistema de jogo utilizado pela equipe preta é o 4-4-2 com duas linhas de quatro. Isolamos apenas os confrontos dos meios de campo para ilustrar a formação dos triângulos. O atleta número 8 (preto) pressiona o homem da bola e seus companheiro 5 e 11 fecham as linhas de passe por dentro, dando ao adversário a opção de realizar apenas passes laterais ou passes longos pelo alto.

Quando o passe é realizado para o lado, outro triângulo é formado envolvendo outros 3 atletas da equipe preta (figura 2).

Figura 2 – Novo triângulo formado após um passe lateral do 5 para o 8 (laranja)

Com isso a equipe preta busca tornarem previsíveis o máximo possível as ações do time laranja. Esse é o controle do espaço em que se baseia a marcação por zona.

Leandro Zago

O Scout no futebol

Pela competitividade e equilíbrio que caracteriza o futebol atualmente, o técnico deve sempre buscar diferenciais que agreguem positivamente ao seu trabalho, transformando-os em resultados. Scout é uma palavra da língua inglesa que traduzida para o português significa explorador. E esse é o principal objetivo de um trabalho de Scout, explorar todas as possibilidades das equipes analisadas, encontrando pontos fortes e fracos nas mesmas.

Para montarmos um modelo de Scout devemos levar em conta três dimensões básicas:

- temporal: refere-se aos períodos de ocorrências dos eventos no jogo, tempo de realização das ações, tempo de posse bola, enfim, tudo que possa ser caracterizado em função do tempo;

- espacial: relacionar os eventos às regiões do campo, posicionamento das equipes com e sem bola, ou seja, todas as ações que possam ser relacionadas com o espaço de jogo;

- tarefa: tipo de ação ou fundamento realizado em determinada jogada, quantificando e qualificando os eventos ocorridos, caracterizando-os.

Devemos considerar também os padrões coletivos e a proposta de jogo da equipe analisada para podermos contextualizar os dados e compreendê-los de uma forma global.

O Scout também pode ser realizado de forma longitudinal (quando o realizamos analisando nossa própria equipe ao longo de uma seqüência de jogos numa temporada, por exemplo) ou transversal (quando é feita a análise do nosso próximo adversário baseado em um jogo). Temos que nos atentar para isso, pois são dois tipos de análises diferentes que possuem seus prós e contras.

Vejamos duas situações distintas para ilustrar os pontos contras:

- análise longitudinal: caso eu me baseie pela boa média de desarmes da minha equipe por partida, posso não reparar que ela diminuiu sua capacidade de desarme nos últimos cinco jogos;

- análise transversal: no jogo em que analiso meu adversário, não necessariamente ele realizará todos os movimentos coletivos que está habituado, ou então, jogará de acordo com aquele adversário do dia.

O trabalho de Scout é de grande valia para o treinador, mas este não pode se deixar enganar pelos números, e para isso devem estar montados de acordo com as necessidades e com a capacidade de intervenção dele no aspecto tático da equipe.

Leandro Zago

O que é, afinal, defender (jogar) por zona?

Vemos claramente no futebol mundial atual que as grandes equipes em sua maioria jogam marcando por zona seus adversários. Equipes com grandes jogadores que descobriram nessa forma de jogar um caminho para potencializar seus talentos e fazer do jogo coletivo sua identidade. Se esse fato realmente acontece, também é verdade que ainda existem treinadores que a ignoram e justificam-se apontando as limitações desse tipo de marcação.

Bauer (1994) caracterizou a “defesa por zona” assim: 1) a cada jogador é entregue um determinado espaço (zona), pelo qual será responsável durante toda a defesa, 2) quando a equipe perde a bola, cada jogador deve deslocar-se para trás, para a sua zona, 3) na sua zona, o jogador deve marcar diretamente qualquer adversário que nela entre, com ou sem bola, 4) se o adversário muda para outra zona, passará automaticamente a ser da responsabilidade de outro defesa, 5) todos os jogadores da equipe devem deslocar-se em direção à bola e, 6) o portador da bola deverá ser atacado por dois ou mais jogadores por vez.

Essa definição do referido autor, apesar de considerar algumas características da defesa por zona, aproxima-se mais de uma marcação mista, onde cada jogador marca o adversário que estiver na sua zona. E também apresenta algumas incoerências, pois, como vou garantir que a marcação será duplicada sobre o portador da bola se meus jogadores tem como referência a movimentação adversária? Tudo bem, será dentro de sua zona de atuação, mas isso já será suficiente para impedir uma eficiência do sistema de coberturas.

E por falar em referência, aí reside uma brutal distância entre marcar por zona e as outras formas de marcação que visam o encaixe no adversário. A grande referência da defesa por zona são os espaços e fechar como equipe os espaços mais valiosos. Mas onde são os espaços mais valiosos? Aqueles próximos ao local em que a bola se encontra naquele exato momento e que varia constantemente, tornando a gestão coletiva do espaço e do tempo fundamentais. Se a gestão é coletiva, minha equipe deve atuar como um bloco coeso, fechando linhas de passe em progressão, que flutua dependente da circulação de bola do adversário, gerando pressão espaço-temporal no portador da bola da equipe adversária através da ocupação racional dos espaços. Assim obteremos superioridade numérica, pois vejam, que em nenhum momento a movimentação do adversário interferiu no sistema de coberturas que se sucedem a cada variação de ação tática-técnica de ambas equipes.

Melhor que “defender por zona” é falarmos em “jogar por zona” porque expressa com mais clareza o real significado dos objetivos implícitos nessa filosofia. Quando jogo marcando dessa forma, a recuperação da bola deve ocorrer de forma coletiva com total relação com o momento ofensivo. Aliás, dividir o momento “sem bola” do momento “com bola” e ignorar suas respectivas transições é um perigo tão grande como não considerarmos o “jogo por zona” das equipes bem sucedidas do futebol mundial. Ou, talvez, os perigos não sejam maiores um do que o outro, mas o mesmo.

- Referência Bibliográfica

BAUER, G. (1994). Fútbol. Entrenamiento de la técnica, la táctica y la condición física. Editorial Hispano Européia. Barcelona.

Leandro Zago