sexta-feira, 27 de junho de 2014

Copa do Mundo 2014: O Ritmo de Passes das Seleções Sul-americanas e das Seleções Europeias (Parte 1)

Como foi a relação dos passes em função do tempo de bola rolando e do tempo de posse de bola das equipes nos jogos da primeira rodada da fase de grupos da Copa do Mundo


A transferência da bola (passe <=> recepção/domínio) representa muito da essência de uma equipe de futebol. Do ponto de vista estrutural ou operacional, dá indícios sobre a intenção na ação, conhecimento sobre o jogo, qualidade do processo de treinamento e outros tantos fatores. Como produto dessas variáveis e também alinhado a elas, as equipes manifestam (ou manipulam) um ritmo de passes (média em segundos para se executar uma ação técnica de passe) para chegar ao objetivo primário, a vitória.
Segue abaixo a primeira tabela com os dados das equipes da América do Sul, que foram agrupadas por similaridade nas médias obtidas.


Figura 1 – Dados do primeiro jogo de Brasil, Argentina e Uruguai

As três seleções tiveram um tempo maior de posse de bola do que seus adversários e apresentaram como média do ritmo de passes relativo ao tempo de posse de bola e ritmo de passes relativo ao tempo total valores próximos. O Uruguai realizou em média 1 passe a cada 3,04 segundos no tempo que esteve em posse de bola. O ritmo se manteve alto mesmo com um volume de passes menor que Brasil e Argentina devido ao tempo menor de bola em jogo na sua partida.

 
Figura 2 – Dados do primeiro jogo de Colômbia e Equador

Colômbia e Equador possuem ritmos mais lentos em comparação com as Seleções mais tradicionais da América do Sul, fazendo em média 1 passe a cada 3,66 segundos e 3,98 segundos respectivamente. O ritmo de passes diminui vertiginosamente quando o tempo total de bola em jogo é considerado. Esse dado é resultados obviamente de um menor tempo percentual de posse de bola do que seu adversário, apontando para uma proposta de jogo diferente das três Seleções anteriormente citadas.

Figura 3 – Dados do primeiro jogo de Alemanha, Itália e Espanha

A Seleção com o ritmo de passes mais elevado foi a Espanha. E o ritmo se manteve elevado mesmo considerando o tempo total de bola em jogo em comparação com todas as outras Seleções analisadas.

Figura 4 – Dados do primeiro jogo de Inglaterra, Portugal e Holanda

Essas três Seleções apresentaram um ritmo de passes mais lento em comparação com as outras seleções europeias, porém, a maior diferença foi quando o tempo total de bola em jogo foi considerado. Todas tiveram menor tempo percentual de posse de bola do que seus adversários, o que interferiu no tempo de posse e consequentemente na capacidade de manter um ritmo de ações técnicas (o passe nesse caso) mais elevado.
Após a exposição das tabelas com as informações sobre ritmo de passes das Seleções, constata-se que:
1. Como vem sendo constatado em pesquisas nos últimos anos, o tempo de posse de bola possui pouca relação com o resultado que a equipe conquista no jogo. Dos 8 jogos acima citados, em 3 deles, a equipe com menor tempo de posse de bola venceu a partida, correspondendo a quase metade dos jogos avaliados;
2. Os jogos das Seleções Sul-americanas tiveram em geral, menor tempo de bola em jogo (com exceção da Argentina) do que os jogos das Seleções Europeias;
3. Com exceção da Espanha com 83% de aproveitamento dos passes, todas as Seleções vencedoras tiveram um aproveitamento dos passes realizados igual ou superior a 75%;
4. As Seleções com ritmo mais alto (Espanha – 1 passe a cada 2,94 segundos) e com ritmo mais baixo (Equador – 1 passe a cada 3,98 segundos) saíram derrotadas em seus jogos;
5. A Seleção espanhola continua tendo um ritmo alto de passes e recuperando a bola mais rápido que a média das equipes (isso fica claro com o maior volume de passes entre todas as Seleções apontadas e o ritmo mais elevado mesmo considerando o tempo total de bola em jogo), porém, sua capacidade de transformar essas características em efetividade está comprometida;
6. A média do ritmo não considera o tipo de passe (curto, médio ou longo, por exemplo), mas acaba expressando como a equipe sustenta a posse de bola e como constrói seu caminho até o gol;
7. Como a média do ritmo considera apenas a ação técnica do passe, um ritmo mais lento de passes pode ser resultado de equipes que realizam mais vezes outras ações técnicas como condução, cruzamentos e passes mais longos (por consequência com um tempo maior de trajetória), por exemplo. Com isso, a aparente “lentidão” pode sim ser resultado de um tempo maior para a tomada de decisões e imobilidade da equipe, mas não é necessariamente apenas isso.

Referências Bibliográficas

FIFA. Disponível em: http://pt.fifa.com/worldcup/matches/index.html . Acesso em: 23/06/2014.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Copa do Mundo 2014: Uma nova (?!) tendência de Organização Defensiva

O jogo em grande amplitude das equipes vem tendo como consequência uma preocupação sistemática de formas de responder com eficácia a esse conceito de ataque


“A ciência lida com problemas e, ao procurar respostas para eles,
não raramente faz emergir novas, ou renovadas,
questões sobre esse problema ou mesmo novos problemas.”

Antônio Damásio (1994)

Bloco alto, pressão alta e pressing no campo todo. Nesses primeiros jogos da Copa do Mundo do Brasil algumas seleções tem buscado outro caminho para o êxito. E têm conseguido boas vitórias. Será fruto da nova tendência do futebol? Uma “handebolização” do jogo? E por “handebolização” entenda-se defender com todos os jogadores (ou todos menos 1 ou 2) em organização defensiva a partir da Linha 4 (intermediária do campo de defesa). Após a recuperação da bola, contra-atacar rapidamente o gol adversário e se isso não for possível, ocupar o campo de ataque com muitos jogadores para manutenção e seleção da melhor jogada, afinal, provavelmente, seu adversário terá colocado todos (ou quase todos) os seus jogadores atrás da linha da bola. Na figura abaixo estão as linhas de marcação, sendo a Linha 1 a mais adiantada e a Linha 5 a mais recuada.


Figura 1 – Linhas de Marcação

Dentro dessa tendência coletiva, novas / antigas formas de estruturar o espaço de jogo passam a ser utilizadas, de maneira ressignificada, com novas possibilidades. Através do Posicionamento Médio das equipes (informação oficial da FIFA que define um ponto médio que representa todos os espaços ocupados pelo atleta dentro da partida), pode-se realmente avaliar a ocupação espacial com e sem bola, coletiva e individual das equipes.

Figura 2 – Informações do Jogo entre Holanda 5 vs 1 Espanha

Como pode-se observar na figura 2, o posicionamento médio da Seleção da Holanda, confirma o esquema tático dado pelos sites especializados em análise (1-5-2-1-2) e pelo site oficial a FIFA. O jogo por zona proporciona esse tipo de organização, pois tem a ocupação racional do espaço como referência.

Figura 3 – Informações do Jogo entre Costa Rica 3 vs 1 Uruguai

A Costa Rica também investiu numa Linha de Defesa com 5 jogadores, sendo que no caso dessa Seleção, os alas jogaram a maior parte do tempo na linha de defesa (figura 3). O trabalho ofensivo dos seus alas no campo de ataque foi menor em relação à Holanda, porém as duas seleções apresentaram alguns conceitos bem similares.

Figura 4 – Informações do Jogo entre México 1 vs 0 Camarões

A Seleção do México também se estruturou com uma Linha de Defesa mais larga, usando como esquema tático o 1-5-3-2 (figura 4). Diferentemente das duas seleções anteriores, o México teve maior tempo de posse de bola o que seu adversário, implicando em uma ocupação do espaço resultante do seu bloco mais adiantada. Após a apresentação do Posicionamento Médio e do Tempo de Posse de Bola dessas três seleções, pode-se constatar:
1. Algumas seleções tem optado por linhas estruturalmente mais largas (com 5 jogadores) ao invés de linhas menos largas (Linha de 4 jogadores, por exemplo) com sistemas de compensação para melhora no equilíbrio horizontal;
2. A “Linha de 5” vem como resposta ao aumento do número de equipes que trabalham em grande amplitude na fase de finalização;
3. O menor número de jogadores na linha de meio de campo aponta um menor investimento de energia de se recuperar a bola em espaços mais adiantados, como a zona central. A equipe assume a linha recuada como referência para recuperar a bola quando entra em organização defensiva;
4. As equipes começam a ter mais definição entre àqueles jogadores responsáveis pelo equilíbrio (balanço) defensivo na transição defensiva e pelo balanço ofensivo na transição ofensiva. Esses 2 grupos alternam a força de sua relação-interação nos momentos de transição e de organização;
5. A menor preocupação em recuperar a bola rapidamente nos casos da Holanda e da Costa Rica se expressa no menor tempo de posse de bola em relação aos seus adversários. Essas equipe tiveram como referência operacional de ataque a progressão rápida ao gol adversário e como princípio operacional de defesa impedir a progressão com pressão intensa na bola a partir da linha 4;
6. O México, com estruturação das linhas similar ao anteriormente citado, utilizou-se de referências operacionais diferentes. Manutenção com progressão apoiada na fase de ataque e recuperação rápida da bola na fase defensiva;
7. A qualidade e característica dos adversários tem interferência nessas variáveis, portanto assumir essas referências como padrão das equipes só se faz possível ao longo dos jogos.

Referências Bibliográficas

FIFA. Disponível em: http://pt.fifa.com/worldcup/matches/index.html . Acesso em: 15/06/2014.