Como foi a relação dos passes em
função do tempo de bola rolando e do tempo de posse de bola das equipes nos
jogos da primeira rodada da fase de grupos da Copa do Mundo
A transferência da bola (passe <=>
recepção/domínio) representa muito da essência de uma equipe de futebol. Do
ponto de vista estrutural ou operacional, dá indícios sobre a intenção na ação,
conhecimento sobre o jogo, qualidade do processo de treinamento e outros tantos
fatores. Como produto dessas variáveis e também alinhado a elas, as equipes
manifestam (ou manipulam) um ritmo de passes (média em segundos para se
executar uma ação técnica de passe) para chegar ao objetivo primário, a vitória.
Segue abaixo a primeira tabela com os
dados das equipes da América do Sul, que foram agrupadas por similaridade nas
médias obtidas.
Figura 1 – Dados do primeiro jogo de Brasil, Argentina e Uruguai |
As três seleções tiveram um tempo maior
de posse de bola do que seus adversários e apresentaram como média do ritmo de
passes relativo ao tempo de posse de bola e ritmo de passes relativo ao tempo
total valores próximos. O Uruguai realizou em média 1 passe a cada 3,04 segundos
no tempo que esteve em posse de bola. O ritmo se manteve alto mesmo com um
volume de passes menor que Brasil e Argentina devido ao tempo menor de bola em
jogo na sua partida.
Figura 2 – Dados do primeiro jogo de Colômbia e Equador |
Colômbia
e Equador possuem ritmos mais lentos em comparação com as Seleções mais
tradicionais da América do Sul, fazendo em média 1 passe a cada 3,66 segundos e
3,98 segundos respectivamente. O ritmo de passes diminui vertiginosamente
quando o tempo total de bola em jogo é considerado. Esse dado é resultados
obviamente de um menor tempo percentual de posse de bola do que seu adversário,
apontando para uma proposta de jogo diferente das três Seleções anteriormente
citadas.
Figura 3 – Dados do primeiro jogo de Alemanha, Itália e Espanha |
A
Seleção com o ritmo de passes mais elevado foi a Espanha. E o ritmo se manteve
elevado mesmo considerando o tempo total de bola em jogo em comparação com
todas as outras Seleções analisadas.
Essas
três Seleções apresentaram um ritmo de passes mais lento em comparação com as
outras seleções europeias, porém, a maior diferença foi quando o tempo total de
bola em jogo foi considerado. Todas tiveram menor tempo percentual de posse de
bola do que seus adversários, o que interferiu no tempo de posse e
consequentemente na capacidade de manter um ritmo de ações técnicas (o passe
nesse caso) mais elevado.
Após
a exposição das tabelas com as informações sobre ritmo de passes das Seleções,
constata-se que:
1. Como vem sendo constatado em pesquisas nos
últimos anos, o tempo de posse de bola possui pouca relação com o resultado que
a equipe conquista no jogo. Dos 8 jogos acima citados, em 3 deles, a equipe com
menor tempo de posse de bola venceu a partida, correspondendo a quase metade
dos jogos avaliados;
2. Os jogos das Seleções Sul-americanas
tiveram em geral, menor tempo de bola em jogo (com exceção da Argentina) do que
os jogos das Seleções Europeias;
3. Com exceção da Espanha com 83% de
aproveitamento dos passes, todas as Seleções vencedoras tiveram um
aproveitamento dos passes realizados igual ou superior a 75%;
4. As Seleções com ritmo mais alto (Espanha –
1 passe a cada 2,94 segundos) e com ritmo mais baixo (Equador – 1 passe a cada
3,98 segundos) saíram derrotadas em seus jogos;
5. A Seleção espanhola continua tendo um ritmo
alto de passes e recuperando a bola mais rápido que a média das equipes (isso
fica claro com o maior volume de passes entre todas as Seleções apontadas e o
ritmo mais elevado mesmo considerando o tempo total de bola em jogo), porém,
sua capacidade de transformar essas características em efetividade está
comprometida;
6. A média do ritmo não considera o tipo de
passe (curto, médio ou longo, por exemplo), mas acaba expressando como a equipe
sustenta a posse de bola e como constrói seu caminho até o gol;
7. Como a média do ritmo considera apenas a
ação técnica do passe, um ritmo mais lento de passes pode ser resultado de
equipes que realizam mais vezes outras ações técnicas como condução, cruzamentos
e passes mais longos (por consequência com um tempo maior de trajetória), por
exemplo. Com isso, a aparente “lentidão” pode sim ser resultado de um tempo
maior para a tomada de decisões e imobilidade da equipe, mas não é
necessariamente apenas isso.
Referências Bibliográficas
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