sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O jogo dos sete ... erros ou anões ? O que o time(?) de Dunga tem a ensinar

Pela terceira rodada consecutiva jogando em casa, a Seleção Brasileira de futebol empatou em zero a zero e, excluindo-se o jogo contra a Argentina pode-se considerar que o Brasil deixou de somar quatro pontos nas partidas contra Bolívia e Colômbia que o colocariam muito próximo ao Paraguai, líder das Eliminatórias Sul-americanas. Tão preocupante quanto os pontos perdidos é a maneira anárquica com que a Seleção se apresenta nos jogos, com um modelo de jogo pouco elaborado e mesmo assim confuso na aplicação de princípios individuais e coletivos às situações que o adversário proporciona. Nos sete tópicos a seguir, estão algumas observações sobre os conceitos que o Brasil demonstra no seu jogo, nas falas dos atletas e nas tomadas de decisão do seu treinador.

1. Princípios Operacionais de Defesa (POD)

A Colômbia jogou na plataforma 1-4-4-2 com “duas linhas de 4” bem definidas e utilizou como POD impedir a progressão do adversário. Ela só mudava o POD quando o Brasil passava da intermediária ofensiva e a equipe colombiana buscava recuperar a bola. O Brasil utilizou como POD impedir a progressão até a linha 3 (meio – campo) e recuperar a bola quando o adversário entrava em seu campo. Nesse tópico começam a surgir os problemas para a Seleção, pois devido sua disposição em campo (veremos a seguir) não conseguia circular a bola quando em posse da mesma, perdendo-a rapidamente e, quando sem bola, optou por um princípio operacional inadequado porque quando a posse era colombiana, seus zagueiros realizavam passes laterais sem a menor pretensão em progredir no campo de jogo. Ao tentar adiantar a marcação, o Brasil desorganizava-se e a Colômbia o atacava com espaços.

2. Estruturação do espaço de jogo

Devido ao POD da Colômbia, em muitos momentos fazia-se necessária a circulação da bola pela equipe brasileira. O trabalho dos jogadores colombianos foi bem facilitado pela péssima estruturação espacial que o Brasil apresentava quando em posse da bola. A disposição pelo gramado dos jogadores brasileiros não dava conta de criar linhas de passe em bom número ao portador da bola (triângulos, losangos e diagonais) e nem aproveitava todo o espaço possível cumprindo alguns princípios estruturais de ataque como amplitude e profundidade, por exemplo.

3. Velocidade de(o) jogo

Sem algo desenhado sob o ponto de vista estrutural e espacial (estruturas fixas e móveis) e enfrentando uma equipe que desacelera o jogo através da sua estratégia adotada fica complicado aumentar a velocidade de passe-domínio-passe para que a circulação fique mais dinâmica. Para completar, Dunga deu declarações justificando a falta de velocidade ao cansaço dos jogadores Kaká e Robinho (que teoricamente seriam os responsáveis por proporcionar essa característica à equipe) como se o padrão coletivo não tivesse interferência nesse quesito.

4. Entrevistas de Kaká e Lúcio no intervalo

Ao final do primeiro tempo os jogadores Lúcio e Kaká deram entrevistas em que usaram palavras diferentes, mas falaram sobre aumentar a velocidade do jogo. Lúcio falou mais especificamente sobre ter que jogar em maior velocidade e Kaká sobre passar a bola de forma mais rápida. Os jogadores parecem compreender o que ocorre na partida, mas as soluções que escolhem não atendem às necessidades.

5. Saída de bola, chutões e segundas bolas

Outra conseqüência do princípio operacional proposto pela Colômbia foi a dificuldade que a Seleção tinha na saída de bola. A linha defensiva brasileira rodava a bola sem progressão, e sem velocidade, não criando espaços e nem sendo ajudada pela movimentação dos jogadores à frente da linha da bola. Como resultado, a tentativa de realizar ligação direta, através de passes longos, altos e verticais. Com a defesa colombiana recebendo esses passes de frente e com a superioridade numérica em seu campo de defesa (8 + 1 X 3 e 8 + 1 X 4 na maioria da vezes) as “segundas bolas” na maioria das vezes eram da equipe visitante.

6. Robinho e a leitura do jogo

Jogando contra uma equipe que coloca rapidamente nove jogadores (oito + goleiro) em seu campo de defesa, parece claro que sempre que for possível deve-se contra – atacar com velocidade, mudar de zonas do campo (tanto em horizontalidade como em verticalidade) para que o ataque termine rapidamente antes da recomposição adversária. Robinho, sempre que teve a oportunidade optou pela condução, mas antes de qualquer crítica individual, deve-se observar que não foram criadas linhas de passe interessantes para que a melhor decisão fosse tomada.

7. Entrada do Mancini e saída do Robinho

Ao colocar o ala Mancini, houve uma tentativa de um 1-4-2-1-3 com Robinho e Mancini abertos e Kaká nas costas do Jô. Em seguida, Robinho de machucou, entrou Alexandre Pato e Jô veio jogar aberto e longe do gol pelo lado esquerdo. Para jogar com três atacantes é necessária uma familiarização com essa plataforma para que suas dinâmicas sejam bem aplicadas, caso contrário há uma inferioridade numérica em zonas importantes do campo.

Sem considerar a falta de coordenação das transições brasileiras e outros detalhes como a mudança constante de plataforma de jogo, não observa-se que a comissão técnica da Seleção tenha claro algumas coisas que foram abordadas nesse artigo. É sempre um processo de aprendizagem assistir aos jogos da Seleção Brasileira, principalmente para aqueles que, com uma visão crítica, estão construindo um saber sobre o jogo. E para esses, aprender coisas novas é algo contínuo que nunca terminará, enquanto para outros o que está estabelecido é uma verdade suficiente para dar-lhes respostas, independente se são sempre as mesmas, afinal no futebol tudo que tinha para ser criado está aí, o resto é invenção. Você acredita nisso?


Leandro Zago

5 comentários:

Feco disse...

Na minha opinião o time (?) do Brasil está esquecendo um conceito ainda mais básico que possivelmente permitiria maior facilidade em progredir em direção ao gol adversário contra defesas com a mesma proposta da Colômbia: ULTRAPASSAGENS. Assisti um trecho da seleção de Montenegro tentando o empate com a Itália (acuada quando vencia por 2 a 1) e percebi que (quase) sempre que um jogador realizava um passe ele se lançava mais a frente em velocidade. O Brasil joga da maneira inversa contra uma defesa recuada e em equilibrio. Isso faz com que quanto mais perto do gol está a bola, menos opções de passes o jogador terá, sendo obrigado a forçar jogadas individuais, praticamente inofensivas contra um sistema de defesa por zona com múltiplas coberturas.
Me parece que os contra-ataques brasileiros funcionam exatamente porque neste momento (de desequilíbrio da defesa adversaria) os nossos atacantes se sentem estimulados a correr em direção ao gol e acavam realizando ultrapassagens.

O que acha?

FECO

Anônimo disse...

concordo plenamente com este comentário, faltaram ao Brasil neste jogo pricipalment nas transições ofensivas as questões de ultrapassagens como forma de verticalização do jogo, e ainda a mudança na plataforma do jogo não identificava os posicionamentos básicos quando modificado para um 4-3-3 , o técnico aparenta sempre depender de lances individuais.

Saulo disse...

Primeiramente, muito bom o seu blog.
Sobre a seleção brasileira. Está faltando tudo nessa seleção. É preciso fazer alguma coisa e já. O que não pode é continuar jogando esse futebol medíocre.

Miguel Nunes disse...

mt interessante o blog

passe pelo meu,sff

abraços

Anônimo disse...

Olá Leandro...um texto muito bacana! Não vou aqui dissertar sobre o que o Dunga deveria fazer, não sei se sou a pessoa mais indicada para isso, principalmente depois de um comentário como o do Feco (belíssima análise!).
Venho apenas ressaltar a interpretação que você utiliza sobre como so princípios operacionais podem ser manipulados pelo modelo de jogo adotado pela equipe. Considero que os princípios do jogo são onipresentes nos esportes coletivos, ou seja, estão presentes no simples ato de jogar. Porém, como bem destacado, eles são inerentes ao jogo, mas os jogadores (e o grupo que joga) pode dar ênfase para um ou outro princípio do jogo dependendo dos objetivos da equipe. Gostei muito dessa forma de interpretar o jogo, a partir da lógica de que os princípios operacionais, mesmo sendo "onipresentes" (sobre minha interpretação de Bayer), podem ser manipulados de acordo com o interesse coletivo...eis a complexidade!
Abraços....seu blog é muito bom!