O jogo em grande amplitude das equipes
vem tendo como consequência uma preocupação sistemática de formas de responder
com eficácia a esse conceito de ataque
“A
ciência lida com problemas e, ao procurar respostas para eles,
não
raramente faz emergir novas, ou renovadas,
questões
sobre esse problema ou mesmo novos problemas.”
Antônio
Damásio (1994)
Bloco alto, pressão alta e pressing no
campo todo. Nesses primeiros jogos da Copa do Mundo do Brasil algumas seleções
tem buscado outro caminho para o êxito. E têm conseguido boas vitórias. Será
fruto da nova tendência do futebol? Uma “handebolização” do jogo? E por
“handebolização” entenda-se defender com todos os jogadores (ou todos menos 1
ou 2) em organização defensiva a partir da Linha 4 (intermediária do campo de
defesa). Após a recuperação da bola, contra-atacar rapidamente o gol adversário
e se isso não for possível, ocupar o campo de ataque com muitos jogadores para
manutenção e seleção da melhor jogada, afinal, provavelmente, seu adversário
terá colocado todos (ou quase todos) os seus jogadores atrás da linha da bola.
Na figura abaixo estão as linhas de marcação, sendo a Linha 1 a mais adiantada
e a Linha 5 a mais recuada.
Figura 1 – Linhas de Marcação
|
Dentro dessa tendência coletiva, novas
/ antigas formas de estruturar o espaço de jogo passam a ser utilizadas, de
maneira ressignificada, com novas possibilidades. Através do Posicionamento
Médio das equipes (informação oficial da FIFA que define um ponto médio que
representa todos os espaços ocupados pelo atleta dentro da partida), pode-se
realmente avaliar a ocupação espacial com e sem bola, coletiva e individual das
equipes.
Figura 2 – Informações do Jogo entre Holanda 5 vs 1 Espanha |
Como
pode-se observar na figura 2, o posicionamento médio da Seleção da Holanda,
confirma o esquema tático dado pelos sites especializados em análise (1-5-2-1-2)
e pelo site oficial a FIFA. O jogo por zona proporciona esse tipo de
organização, pois tem a ocupação racional do espaço como referência.
Figura
3 – Informações do Jogo entre Costa Rica 3 vs 1 Uruguai
|
A Costa
Rica também investiu numa Linha de Defesa com 5 jogadores, sendo que no caso
dessa Seleção, os alas jogaram a maior parte do tempo na linha de defesa
(figura 3). O trabalho ofensivo dos seus alas no campo de ataque foi menor em
relação à Holanda, porém as duas seleções apresentaram alguns conceitos bem similares.
Figura
4 – Informações do Jogo entre México 1 vs 0 Camarões
|
A
Seleção do México também se estruturou com uma Linha de Defesa mais larga,
usando como esquema tático o 1-5-3-2 (figura 4). Diferentemente das duas
seleções anteriores, o México teve maior tempo de posse de bola o que seu
adversário, implicando em uma ocupação do espaço resultante do seu bloco mais
adiantada. Após a apresentação do Posicionamento Médio e do Tempo de Posse de
Bola dessas três seleções, pode-se constatar:
1. Algumas seleções tem optado por linhas
estruturalmente mais largas (com 5 jogadores) ao invés de linhas menos largas (Linha
de 4 jogadores, por exemplo) com sistemas de compensação para melhora no
equilíbrio horizontal;
2. A “Linha de 5” vem como resposta ao aumento
do número de equipes que trabalham em grande amplitude na fase de finalização;
3. O menor número de jogadores na linha de
meio de campo aponta um menor investimento de energia de se recuperar a bola em
espaços mais adiantados, como a zona central. A equipe assume a linha recuada
como referência para recuperar a bola quando entra em organização defensiva;
4. As equipes começam a ter mais definição
entre àqueles jogadores responsáveis pelo equilíbrio (balanço) defensivo na
transição defensiva e pelo balanço ofensivo na transição ofensiva. Esses 2
grupos alternam a força de sua relação-interação nos momentos de transição e de
organização;
5. A menor preocupação em recuperar a bola
rapidamente nos casos da Holanda e da Costa Rica se expressa no menor tempo de
posse de bola em relação aos seus adversários. Essas equipe tiveram como
referência operacional de ataque a progressão rápida ao gol adversário e como
princípio operacional de defesa impedir a progressão com pressão intensa na
bola a partir da linha 4;
6. O México, com estruturação das linhas
similar ao anteriormente citado, utilizou-se de referências operacionais diferentes.
Manutenção com progressão apoiada na fase de ataque e recuperação rápida da
bola na fase defensiva;
7. A qualidade e característica dos
adversários tem interferência nessas variáveis, portanto assumir essas
referências como padrão das equipes só se faz possível ao longo dos jogos.
Referências Bibliográficas
2 comentários:
Amigo, obrigado pela partilha, pois fez um bom trabalho, ao observar e analisar estas equipas, na forma estrutural que elas actuam. Abraço
Ótima análise. Será possível também associarmos essa tendência a uma nova postura de ataque? Quando observava o Pep, na direção do Barça pude perceber essa frequente linha de recuperação defensiva e um ataque com quase 5 jogadores, 3 atacantes e 2 meias de ligação. Um exemplo que foi utilizado nesta copa como citado.
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