As duas ações técnicas fundamentais, o
passe e a finalização, suas relações e o aproveitamento em gols como resultante
“O futebol não é um
esporte de posse de bola.
É um jogo de gestão
de constantes perdas de bola”
(Anderson e Sally in Os Números do Jogo, 2013, p. 141)
Neste
terceiro artigo sobre a Copa das Confederações, o objetivo é relacionar duas
ações técnicas fundamentais do jogo, como o passe (Parte 1) e a finalização
(Parte 2) com a capacidade de atingir o objetivo principal, marcar o gol. Novamente,
os números nos fornecem informações sobre alguns padrões, índice de
produtividade e preferências das quatro seleções finalistas.
Figura 1 – Relação entre Passes (Total) e Finalizações |
A
Itália foi a seleção que mais precisou passar a bola para gerar uma finalização
(1 finalização a cada 42,5 passes). As outras três seleções mantiveram uma
relação entre o total de passes e o total de finalizações muito próximo. Quando
o total de passes foi relativizado com as finalizações certas, Brasil e Uruguai
tiveram índices muito próximos, a relação da seleção italiana se manteve como a
mais alta e a Espanha foi a seleção que mais elevou sua relação (precisou de
78,2 passes para finalizar em gol uma jogada).
Sendo
a ação de finalização da jogada a forma mais comum de marcar gols, as equipes
têm (ou deveriam ter) como base de sua idéia de jogo construir muitas situações
de finalização, de um determinado tipo (qual seria?), de maneira que seus jogadores
tivessem muitas oportunidades vantajosas de concretizá-las em gol(s).
Figura 2 – Relação entre Passes (Certos) e Finalizações |
A
relação dos passes certos com o total de finalizações apresenta médias
consideravelmente próximas entre as quatro seleções. Na relação com as
finalizações certas, as seleções europeias apresentam médias muito mais altas
do que as seleções sul-americanas. Na comparação em questão pode-se atribuir
essa diferença ao tipo de jogo, à preferência por determinado padrão de
sequência ofensiva e também pela competência de seus definidores.
Há
uma grande diferença entre finalizar e finalizar no gol (considerada a finalização
certa). Geralmente a finalização no gol é produto de uma sequência ofensiva
(produção coletiva) que proporciona uma última ação de definição em
circunstâncias vantajosas (pressão de tempo e espaço ideal, posição corporal do
definidor, etc.) e/ou mérito individual de um jogador (produção individual) que
crie esse cenário favorável. Ambas produções, coletiva e individual, acontecem
complexamente em paralelo, com predominância de uma ou outra dependendo da
circunstância.
Figura 3 – Relação entre Finalizações (Total e Certas)
e Gols
Na
figura 3, está descrita a produtividade ofensiva das equipes. Ao relacionar o
total de finalizações com as finalizações certas, observa-se a capacidade das
seleções em transformar uma finalização em uma finalização no gol, com as
exigências já descritas acima. O Brasil foi mais eficiente nesse quesito
enquanto a Espanha foi a menos eficiente, mesmo sendo a seleção que mais
finalizou nessa competição.
Figura 4 – Relação entre Passes (Total e Certos) e Gols |
Nas
figuras 3 e 4, as relações mostram que a seleção uruguaia é aquela que com um
menor número de ações técnicas de passe e finalização faz gols. Com exceção da
relação das finalizações certas com os gols em que tem um índice maior que o da
Espanha, em todas as outras relações (total de finalizações e passes e passes
certos), o Uruguai detém os menores índices relativos. Dessa forma, pode-se
supor que a seleção uruguaia ou é mais econômica em suas sequências ofensivas ou
por opção, ou como consequência das alternativas individuais / coletivas que
estão disponíveis. Porém, ter relações mais baixas em grande parte das
variáveis apresentadas não foi suficiente para impedir que o Uruguai tivesse a
pior classificação entre as quatro seleções semifinalistas. Essa seleção não
cumpriu com o objetivo do jogo (fazer mais gols que o adversário) em seus jogos,
porque segundo a lógica do jogo a equipe deve buscar “fazer com que a bola
entre na meta adversária, com o menor número de ações possível” (Leitão, 2009,
p. 54), portanto ela atendeu apenas à segunda parte do conceito. Os dados são
relativos a duas partidas por seleção, para que sejam observados padrões. A
efetividade que potencializa vitórias está ligada à capacidade de ser circunstancial
no cumprimento da lógica, ser efetivo / econômico a cada ação, a cada partida.
Afinal, em sistemas complexos, não lineares, caóticos, pode apenas potencializar
resultados, jamais garanti-los.
Referências Bibliográficas
Anderson,
C. e Sally, D. Os números do jogo:
por que tudo o que você sabe sobre futebol está errado. Tradução: André Fontenelle. São Paulo, 2013.
FIFA.
Disponível em: http://pt.fifa.com/confederationscup/statistics/index.htm.
Acesso em: 05/07/2013.
Leitão,
R.A.A. O jogo de futebol: investigação de sua estrutura, de seus
modelos e da inteligência de jogo, do ponto de vista da complexidade. Tese
de Doutorado em Educação Física. Faculdade de Educação Física da Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). 2009. Campinas. 2009.
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