Nessa semana o treinador Dorival Júnior fez uma crítica à mídia especializada em futebol após a derrota por 2 a 1 da sua equipe na Arena da Baixada que foi suficiente para que o Coritiba (time deste treinador) conquistasse o título estadual do Paraná. De acordo com o técnico os analistas devem se qualificar mais para ter melhor embasamento durante seus comentários e que passa por essa questão a evolução do futebol brasileiro, visto que, dessa forma chegarão informações de melhor qualidade aos torcedores que consomem esse produto. Realmente passa a ser preocupante esse cenário pelo círculo vicioso que acaba se criando, pois comentaristas limitam-se a falar o que o torcedor entende, com isso os torcedores nunca recebem novas e interessantes informações sobre a leitura do jogo e estabelece-se um nível de mediocridade (no sentido de mediano mesmo) que nunca transcende o atual.
Seguindo essa linha de conduta o treinador acaba sofrendo as conseqüências, pois acaba sempre sendo julgado por pessoas que pouca ou nenhuma informação “tática” tem sobre o jogo, e nessa lista podemos incluir não apenas os torcedores, mas diretores de futebol, presidentes de clubes e narradores esportivos. A leitura paupérrima que a maioria desses citados têm não os permite dar soluções diferentes para problemas diferentes e caem sempre no senso comum, ou quem já não ouviu frases do tipo “agora que foi expulso um jogador do adversário o treinador pode tirar um dos três zagueiros e colocar mais um atacante”, ou “precisa segurar o jogo, pode trocar o atacante por um volante”, “o meia do time A está acabando com o jogo, precisa colar alguém nele” e tantas outras que surgem nas transmissões dos jogos.
Nas transmissões dos Campeonatos Europeus a dificuldade dos especialistas (jornalistas e ex-jogadores) fica evidente quando tentam aplicar uma lógica de solução utilizada no futebol brasileiro (jogar com marcação mista, por exemplo, e todas as suas dinâmicas) ao futebol inglês ou italiano onde se joga marcando por zona e a dinâmica coletiva está totalmente relacionada a essa forma de jogar. Outro dia, um comentarista, ao analisar as dificuldades do Milan (naquele domingo o Milan jogava em uma plataforma 4-4-2 com duas “linhas de 4” marcando por zona e sem o Kaká), disse que o time ressentia de um meia de aproximação e por isso havia uma distância entre a linha média e os dois atacantes. Vejamos, jogando dessa forma que o Milan joga, não há meia de aproximação. Existem sim, dois médios centralizados (também chamados de pivôs defensivos em alguns casos) e dois alas. A distância entre os compartimentos – defesa, linha média e ataque – está relacionada quando em posse de bola a capacidade de ocupação do espaço de jogo de uma forma racional, criando estruturas geométricas que possibilitem a circulação da bola numa velocidade ótima e com possibilidade de mudança de zona sempre que necessário. Assim a equipe criaria linhas de passe no campo ofensivo e seriam possíveis jogadas em profundidade e aproximações em todos os setores. Se isso não ocorrer, uma simples substituição não dará conta de resolver o problema.
A forma de ler o jogo carrega um peso cultural, e a nossa sociedade (brasileira) transfere para o campo a capacidade de definir as coisas individualmente, transformando um jogador em responsável por uma grande vitória ou derrota, ignorando aspectos coletivos. O futebol é um esporte coletivo que engloba ações individuais e coletivas, portanto nenhuma das duas pode ser deixada de lado. Ter os melhores jogadores não é garantia de títulos como vemos todas as temporadas pelo mundo afora, pois a capacidade coletiva que proporciona uma regularidade à equipe, tornando-a muitas vezes independente dos seus grandes craques. Quando conseguirmos discutir um resultado, seja ele uma vitória ou uma derrota, num patamar acima, novos problemas surgirão, porque assim é a vida, mas teremos sido responsáveis por colaborar com a evolução desse esporte que movimenta multidões.
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