terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Pressão e Pressing

1. Para que pressionar o adversário ?

“A pressão deve exercer-se sobre a bola, não sobre o jogador”
(Cruyff, 2002)

Recuperar a bola. Essa é uma tarefa que pode se tornar mais ou menos complicada dependendo do nível de elaboração que se encontra a equipe sem bola em seus princípios de jogo, em nível organizacional, operacional e estrutural. E também está ligada, é claro, ao jogo posicional do adversário, sua capacidade de circular a bola e de progredir em direção ao campo adversário ou ao gol, além de outras inúmeras variáveis. Contudo, ter a bola e, obviamente estar preparado para utilizá-la de forma efetiva em busca do cumprimento da lógica do jogo (Leitão, 2004), passou a ser essencial principalmente para equipes de Rendimento Superior que, além de necessitarem de um controle muito bom do jogo sem a bola, também precisam controlá-lo e/ou dominá-lo com bola devido às exigências que são submetidas nas várias competições que disputam, tanto em nível nacional como continental.
Em situações de jogo em que a bola tem que ser recuperada rapidamente após um ataque para que uma situação adversa no placar seja revertida ou contra uma equipe que circule a bola próxima a sua área de defesa como estratégia para a manutenção de uma vantagem por exemplo, faz–se necessário adotar alguns comportamentos. Nesses casos citados, por se tratar de recuperar a bola longe do gol que se defende é preciso adiantar a equipe. O campo a defender torna-se maior e a complexidade do movimento coletivo aumenta. A gestão dos espaços deve estar regida por regras de ação que todos compreendam e entendam seus momentos de aplicação e essa coordenação coletiva que proporcionará a manutenção de um equilíbrio nos níveis estruturais, operacionais e organizacionais.

2. O que é Pressing ? É para defender-se ou para jogar ?

O “futebol de pressing”, assim chamado pelo seu criador, Rinus Michels, consistia de um dispositivo tático cujo objetivo era acuar intensamente o adversário para recuperar a posse de bola e não ceder em nenhum momento a iniciativa de jogo ao mesmo, contando com dois requisitos básicos: espírito de luta inquebrantável e excelentes níveis de preparação física. Segundo a definição do próprio Michels, o futebol de pressing era “um sistema de jogo em que todos os jogadores no campo atacam todo o tempo... ainda que não tenham a posse de bola!”
Esse conceito foi criado e popularizado pelo treinador holandês e ficou em evidência principalmente após a Copa do Mundo de 1974 devido à excelente campanha que a seleção da Holanda realizou durante aquele mundial. Apresentando um futebol fantástico, inclusive com a denominação de “Carrossel Holandês” pela alta rotatividade de movimentações que a equipe demonstrava em campo, o “pressing” se tornou desde então uma característica de equipes de alto nível, que vêem nessa forma de jogar um meio para controlar e / ou dominar as partidas.
Ao utilizar-se do pressing busca-se tornar o campo pequeno para o adversário, pressionando-o tanto em espaço como em tempo. Prioritariamente, todos os espaços próximos à bola devem ser racionalmente ocupados e as linhas de passe do adversário são suprimidas e este se vê com um reduzido número de possibilidades, tudo isso é claro se o “pressing” for bem realizado e muito bem sistematizado durante o processo de treino.
O “pressing” segundo Amieiro (2005) é uma ação coletiva defensiva de opressão sobre o portador da bola, sendo que esta ação busca diminuir o tempo e espaço de ação do mesmo. A questão coletiva passa a ser primordial nessa ação, pois o estado de pressão imposto ao adversário depende de uma ocupação inteligente e direcionada de todos os espaços necessários para que isso ocorra. Outro ponto importante citado pelo autor é de que o “pressing” não deve ser feito apenas para impedir que o adversário jogue, mas para que sua equipe jogue, por isso esta dever ter estratégias para pressionar e dar seqüência na jogada e não apenas pressionar, roubar a bola e logo em seguida perdê-la, e isso obviamente também deve ser definido durante o processo de treino. A transição ofensiva e defensiva tem plena relação com essa forma do time atuar.

3.  Quais as referências para pressionar ?

Em se tratando de futebol de alto nível, tem-se recriminado toda forma passiva de jogar e o “pressing” tornou o ato de defender passivamente em um ato agressivo de jogar defensivamente, os espaços então tornaram-se ainda mais escassos. Essas formas de “pressing” têm aspectos físicos específicos e são determinantes nos jogos, pois os jogadores devem resistir durante os noventa minutos aos estímulos da partida e reagir da melhor maneira possível conforme o modelo de jogo proposto pelo treinador.
Consideremos as seguintes variáveis:
- Espaço: refere-se à região ou setor do campo em que a pressão deve iniciar ou ser realizada;
- Tempo: relaciona-se ao momento em que deve-se iniciar a pressão, se na transição defensiva, nos passes para trás do adversário, etc e;
- Referência: diz respeito ao elemento do jogo que orientará a pressão, se a bola, o adversário ou um setor do campo, por exemplo.
As três variáveis acima citadas são essenciais para se compreender o ato de pressionar e o que o norteia. E, independentemente da opção por este ou aquele referencial, a capacidade de exercer pressing, ou seja, de gerar uma situação para o adversário que o obrigue a decidir sob condições com maior dificuldade que o habitual, dependerá do nível de compreensão que o grupo de jogadores que o aplica tem sobre o jogo. Esses conhecimentos sobre a lógica do jogo serão construídos dentro de um processo pedagógico de treino, com complexidade crescente e sempre atuando dentro da zona proximal de conhecimento do grupo de atletas.

4.  Pressionando alto no 1-4-3-3 (menos linhas horizontais)


Figura 1 – Pressão Zonal em Bloco Alto (largura)

Na figura acima podemos observar uma equipe jogando na plataforma 1-4-1-2-3, indo em busca da bola na linha 5 e utilizando marcação por zona. Ao adiantar o bloco em busca da bola, foram construídas 4 linhas de marcação (inclui-se aí o goleiro como uma linha) e com isso um espaço considerável foi deixado nas costas da penúltima linha (zagueiros 3 e 4 e o lateral 6) para que possa ser explorado pelo adversário numa possível bola longa para a entrada em velocidade dos atacantes. Obviamente, sustentar uma contínua pressão sobre a bola e evitar o recuo da equipe (o que geraria maior deslocamento) torna-se essencial, por isso os movimentos tem que estar coordenados. Porém, a equipe azul manteve-se equilibrada do ponto de vista da ocupação do espaço no que tange à largura, conseguindo realizar pressing continuamente caso a adversário busque a circulação lateral da bola. Viradas de jogo longas também não desestruturarão tão facilmente esse bloco.

5.  Pressionando alto no 1-4-3-3 (mais linhas horizontais)


Figura 2 – Pressão Zonal em Bloco Alto (profundidade)

Utilizando a mesma plataforma da figura anterior, o 1-4-1-2-3, na figura 2, a pressão sobre o adversário deu-se de forma diferente sob o aspecto estrutural. Nessa figura vemos um maior número de linhas construídas e uma equipe mais “estreita”. Mudam-se as prioridades, o objetivo é o mesmo, então qual o motivo? Caso o confronto seja contra uma equipe que lance bolas longas nas costas dos zagueiros, mas que não circule bem a bola, utilizando ataques rápidos sem mudança de flanco, pressionar dessa forma torna-se mais vantajoso.

Para pressionar alto tem que haver estruturas construídas no campo de jogo (podemos observar que os jogadores da equipe que pressiona formam, nas duas figuras, estruturas geométricas entre todos eles, principalmente triângulos e losangos), pois a estruturação do espaço e a relação que os jogadores mantém entre eles (comunicação e meta-comunicação) são duas das três competências essenciais que o autor Júlio Garganta (1997) considera importante para o jogador de esportes coletivos, sendo nesse caso, o futebol. Para cumprir com efetividade a recuperação da bola utilizam-se os princípios de defesa mais adequados (compactação, flutuação, etc.) em conjunto com os operacionais sem perder o todo, o jogo, com transições e fase de ataque, de vista.

Referências Bibliográficas

Amieiro, N. (2005) Defesa à Zona no Futebol: Um pretexto para refletir sobre o jogar ... bem, ganhando! Edição do Autor. 2005.

Cruyff, J. (2002) Me gusta El fútbol. RBA Libros. Barcelona.

Garganta, J. M. (1997) Modelação Tática do Jogo de Futebol: estudo da organização da fase ofensiva em equipes de alto rendimento. 150 f. Tese (Doutorado). Faculdade de Ciência do Desporto e Educação Física, Universidade do Porto, Porto.

Leitão, R. A. A. (2004) Futebol: análises qualitativas e quantitativas para verificação e modulação de padrões e sistemas complexos de jogo. UNICAMP, Campinas.

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