Padrões de comportamento de jogo que
as equipes de altíssimo nível manifestaram um ano antes da Copa do Mundo
“As coincidências
são lógicas”
(Johan Cruyff in Os
Números do Jogo, 2013, p. 41)
A
Copa das Confederações 2013 teve em sua fase final, os últimos três campeões
mundiais e o atual campeão da América do Sul. Pelo formato dos grupos e pelos
resultados, esses quatro campeões mundiais acabaram por se enfrentar exatamente
uma vez entre jogos de primeira fase, semifinais, disputa de terceiro e quarto
lugar e final.
Os
números apresentados nesse artigo foram retirados do site oficial da FIFA e
levaram em consideração apenas as quatro equipes semifinalistas, devido à equidade
de jogos (todas jogaram cinco jogos na competição) e o nível de dificuldade que
enfrentaram. Deve considerar que alguns jogos da primeira fase tiveram
diferenças de placar fora da curva de normalidade (como o jogo da Espanha
contra o Taiti, por exemplo), porém, mesmo assim alguns padrões se mantiveram e
se equilibraram, como é esperado dentro de uma competição.
Os
números nas figuras a seguir estão divididos de acordo com a fase da competição
(Primeira Fase com três jogos, Segunda Fase com dois jogos sendo semifinal e
final ou disputa do terceiro e quarto lugares). E também em valores absolutos
(número de passes totais) e média (número total dividido pelo número de jogos
respectivo).
Figura 1 – Comparação entre a Primeira e Segunda Fase
(Volume de Passes)
|
Pela
diferença no volume total de passes considerando-se os cinco jogos, observa-se
que essa é uma variável com interferência do tipo de jogo da equipe e da
proposta do adversário também.
Recuperação
rápida com sequências longas de passes curtos prioritariamente como a da
Espanha geram uma diferença de aproximadamente 280 passes por jogo em relação
ao tipo jogo do Uruguai de sequências mais verticais e alternância nas linhas
de marcação não priorizando o tempo curto na recuperação da bola.
Com
exceção da Itália, as outras três seleções mantiveram um padrão muito próximo
entre a primeira e segunda fases. Contra o Brasil na primeira fase, a Itália enfrentou
uma seleção que buscava a recuperação rápida da bola, em compensação nos jogos
de semifinal e disputa terceiro e quarto lugares a característica dos jogos foi
diferente. Adotou um jogo de busca constante pela bola contra a Espanha e
contra o Uruguai se deparou com uma seleção que ofereceu a bola ao adversário
para ter o contra-ataque.
Figura 2 – Comparação entre a Primeira Fase e o
Resultado Final (Volume de Passes)
|
Comparando
a média da primeira fase com o resultado médio final, as diferenças obviamente
são menores ainda, mostrando que mesmo com a oscilação em função do nível dos
adversários as equipes tendem a manifestar seu padrão.
Nas
equipes com auto referência em seu modelo de jogo mais consistente, os ajustes
específicos que os treinadores realizam para os confrontos, também não são
suficientes para interferir de maneira agressiva em alguns padrões (como o
volume de passes, nesse caso) que aparentemente são produtos dos padrões
individuais (jogadores), interação entre jogadores (padrões próprios emergem em
cada relação), ambiente, circunstância momentânea da equipe, fatores culturais,
etc.
Contudo,
uma equipe pode ter como auto referência a flexibilização do seu modelo de jogo
para potencializar seu jogar frente aos problemas pontuais que cada adversário
vai propor. São duas formas diferentes de abordar o jogo, com suas implicações,
vantagens e desvantagens nas possibilidades de vitória.
Figura 3 – Comparação entre a Primeira e Segunda Fase (Aproveitamento
de Passes)
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Como
pode ser observado na figura acima, o aproveitamento de passes (passes certos
em relação ao total de passes) possui um padrão mais estável ainda se
compararmos com o volume total. Novamente a seleção italiana foi aquela que
oscilou mais dentro de seu próprio padrão, enquanto as outras tiveram menores
variações. Contudo, a Itália foi a única que melhorou seu aproveitamento de
passes na segunda fase. Todas as outras tiveram decréscimo de rendimento em
passes certos.
Figura 4 – Comparação entre a Primeira Fase e o
Resultado Final (Aproveitamento de Passes)
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Novamente,
houve uma diminuição na diferença em pontos percentuais, trazendo interações
sistêmicas das seleções nesse quesito para índices mais estáveis, mais próximos
dos atratores que determinam sua configuração.
Com
os dados apresentados nas quatro figuras, pode-se identificar que as seleções
apresentam padrões em relação à ação técnica (tática, mental, física e cultural,
por quê não?) do passe. O passe é a ação com bola que os jogadores (e
consequentemente as equipes) mais realizam no jogo. Passar a bola não é o
objetivo do jogo, é meio para atingir o objetivo, que é marcar mais gols que o
adversário. Essa percepção corrobora com a constatação de Anderson
e Sally (Os Números dos Jogo, p. 147) de que o volume de passes é uma decisão
tática, não tendo relação direta com vitórias ou derrotas. Portanto,
o volume de passes e o seu aproveitamento são úteis para o entendimento da
lógica interna (lógica interna ou padrão, padrão ou lógica interna?) das
equipes na busca pelo cumprimento da lógica do jogo (Leitão, 2009). Algumas buscam
o gol com mais passes curtos, outras com passes mais longos, sequências de
passes mais longas, mais passes em direção ao gol de ataque, maior seleção de
jogadas, etc.
O
objetivo dos números apresentados neste artigo é buscar o entendimento do
caminho mais efetivo que cada seleção encontrou para chegar ao gol, aquele em
que com a otimização da energia complexa (energia física, tática, técnica e
mental) o objetivo é cumprido (chegar aos gols e consequentemente às vitórias).
Referências Bibliográficas
Anderson,
C. e Sally, D. Os números do jogo: por
que tudo o que você sabe sobre futebol está errado. Tradução: André
Fontenelle. São Paulo, 2013.
FIFA.
Disponível em: http://pt.fifa.com/confederationscup/statistics/index.htm.
Acesso em: 05/07/2013.
Leitão,
R.A.A. O jogo de
futebol:
investigação de sua estrutura, de seus modelos e da inteligência de jogo, do
ponto de vista da complexidade. Tese de Doutorado em Educação Física.
Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
2009. Campinas. 2009.
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