O neurocientista Antônio Damásio, em seu livro “O Erro de Descartes” (1994) propõe alguns conceitos interessantes para essa discussão. Concebendo a razão como sendo baseada na seleção automatizada, ele nos dá a seguinte solução:
1) se a ordem tiver de ser criada entre as possibilidades disponíveis, nesse caso elas terão que ser ordenadas;
2) se tiverem que ser ordenadas, então são necessários critérios;
3) os critérios são fornecidos pelos marcadores-somáticos, que exprimem, a qualquer momento, as preferências cumulativas que recebemos adquirimos.
Portanto, tendo várias possibilidades elas tem que ser ordenadas, para isso são necessários critérios que são fornecidos pelos marcadores-somáticos, entendido? Até certo ponto sim, mas o que me define os critérios que servirão de base para essa ordenação? O primeiro e essencial critério é colocar a LÓGICA DO JOGO como epicentro do processo de treino. Em nenhum momento pode-se subestimar a lógica do jogo como balizadora da construção do MJ. Como podemos acompanhar na figura abaixo, temos os Princípios Estruturais e os Princípios Operacionais se correlacionando, porém sempre num nível subjacente à lógica do jogo devido as importantes funções que eles têm como ferramentas para cumpri-la da maneira mais eficaz possível.
Figura 1 – Nível primário de Hierarquia para construção do Modelo de Jogo
Para Amieiro (2005), ao se referir à organização defensiva, pensa que o todo, as relações a privilegiar entre as partes que o constituem (os jogadores), e as tarefas a realizar por cada uma delas isoladamente, serão diversos em sua manifestação, de acordo com as referências que se consideram e a respectiva hierarquização (estabelecimento de prioridades). Nesse trecho do referido autor, vemos claramente uma referência à necessidade de ordenação de princípios na estruturação do processo defensivo e como só assim é possível que um grupo de jogadores atue como uma equipe, com interdependência e inter-relação no jogar. Também pode-se interpretar que o autor está referindo-se à hierarquia no nível apenas dos Princípios Estruturais e Operacionais e a relação entre os dois, não considerando a relação de ambos com a o cumprimento da lógica do jogo.
Para estruturar a hierarquia é necessário estabelecer critérios, prioridades, que serão definidos a partir do conhecimento que o treinador tem sobre o jogo, o que ele considera fundamental sua equipe realizar para vencer partidas. Jamais será garantia de vitória ter melhor amplitude ou bascular de forma mais equilibrada que o adversário, porque os princípios só ganham significado quando estão a serviço do cumprimento eficaz da LÓGICA DO JOGO. Nela se encontram as explicações para as vitórias e as derrotas e o profissional do futebol que compreendê-la integralmente, provavelmente não mais perderá partidas (até que um segundo profissional realize o mesmo).
Referências Bibliográficas
Amieiro, N. (2005) Defesa à Zona no Futebol: Um pretexto para refletir sobre o jogar ... bem, ganhando! Edição do Autor. 2005.
Damásio, A. (1994) O Erro de Descartes. São Paulo: Companhia das Letras. 1996.
Leandro Zago - CIEFuT
2 comentários:
Gosto mt dos artigos do blog
Mts parabens! É sempre interessante encontrar quem entende (ou procura faze-lo) o jogo.
No futebol, o que há mais, são chicos espertos, que não percebem absolutamente nada do q é o jogo, mas não se coibem de dar opiniões (na maioria das vezes, ridiculas)
Concordo em tudo que o PB disse, felizes somos nós q podemos ler os artigos desse blog e entender ... Pois tá cheio de gente que ganha e bem mas não sabe ler nenhum artigo desse excelente blog!!!
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