Vemos claramente no futebol mundial atual que as grandes equipes em sua maioria jogam marcando por zona seus adversários. Equipes com grandes jogadores que descobriram nessa forma de jogar um caminho para potencializar seus talentos e fazer do jogo coletivo sua identidade. Se esse fato realmente acontece, também é verdade que ainda existem treinadores que a ignoram e justificam-se apontando as limitações desse tipo de marcação.
Bauer (1994) caracterizou a “defesa por zona” assim: 1) a cada jogador é entregue um determinado espaço (zona), pelo qual será responsável durante toda a defesa, 2) quando a equipe perde a bola, cada jogador deve deslocar-se para trás, para a sua zona, 3) na sua zona, o jogador deve marcar diretamente qualquer adversário que nela entre, com ou sem bola, 4) se o adversário muda para outra zona, passará automaticamente a ser da responsabilidade de outro defesa, 5) todos os jogadores da equipe devem deslocar-se em direção à bola e, 6) o portador da bola deverá ser atacado por dois ou mais jogadores por vez.
Essa definição do referido autor, apesar de considerar algumas características da defesa por zona, aproxima-se mais de uma marcação mista, onde cada jogador marca o adversário que estiver na sua zona. E também apresenta algumas incoerências, pois, como vou garantir que a marcação será duplicada sobre o portador da bola se meus jogadores tem como referência a movimentação adversária? Tudo bem, será dentro de sua zona de atuação, mas isso já será suficiente para impedir uma eficiência do sistema de coberturas.
E por falar em referência, aí reside uma brutal distância entre marcar por zona e as outras formas de marcação que visam o encaixe no adversário. A grande referência da defesa por zona são os espaços e fechar como equipe os espaços mais valiosos. Mas onde são os espaços mais valiosos? Aqueles próximos ao local em que a bola se encontra naquele exato momento e que varia constantemente, tornando a gestão coletiva do espaço e do tempo fundamentais. Se a gestão é coletiva, minha equipe deve atuar como um bloco coeso, fechando linhas de passe em progressão, que flutua dependente da circulação de bola do adversário, gerando pressão espaço-temporal no portador da bola da equipe adversária através da ocupação racional dos espaços. Assim obteremos superioridade numérica, pois vejam, que em nenhum momento a movimentação do adversário interferiu no sistema de coberturas que se sucedem a cada variação de ação tática-técnica de ambas equipes.
Melhor que “defender por zona” é falarmos em “jogar por zona” porque expressa com mais clareza o real significado dos objetivos implícitos nessa filosofia. Quando jogo marcando dessa forma, a recuperação da bola deve ocorrer de forma coletiva com total relação com o momento ofensivo. Aliás, dividir o momento “sem bola” do momento “com bola” e ignorar suas respectivas transições é um perigo tão grande como não considerarmos o “jogo por zona” das equipes bem sucedidas do futebol mundial. Ou, talvez, os perigos não sejam maiores um do que o outro, mas o mesmo.
- Referência Bibliográfica
BAUER, G. (1994). Fútbol. Entrenamiento de la técnica, la táctica y la condición física. Editorial Hispano Européia. Barcelona.
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